Dar um Passo para Trás

Em qualquer empreendimento humano, tendemos a pensar que avançar é sinônimo de progresso e crescimento. Especialmente no mundo dos negócios, onde números e índices ilustram o desempenho de uma empresa.

No entanto, muitos empresários se apoiam em uma falsa sensação de crescimento ao focar exclusivamente em métricas como o aumento de faturamento. Um faturamento maior, especialmente quando impulsionado pela escalabilidade do negócio, costuma trazer consigo um aumento proporcional nos custos, principalmente nos custos operacionais.

Mas será que toda empresa está preparada para lidar com esse crescimento repentino? Em muitos casos, a resposta é não. Nem sempre há um planejamento adequado para suportar uma expansão, o que pode revelar uma fragilidade estrutural ao longo do tempo.

Recentemente, conheci um empresário do setor de construção civil que adotou um modelo inovador e ágil (steel frame) que tem ganhado popularidade. Com a crescente demanda, ele se tornou uma referência no mercado. Porém, a empresa já estava sobrecarregada, e atrasos na entrega de obras começaram a se tornar comuns. Esses atrasos não só comprometeram a qualidade e a reputação da empresa, como também geraram custos operacionais extras, devido à necessidade de realocar funcionários para corrigir falhas nas obras. Esse ciclo de ajustes e re-trabalho gera despesas não previstas, que gradualmente consomem a rentabilidade do negócio.

Esse tipo de crescimento, embora aparente nos números de faturamento, é muitas vezes ilusório. A falta de planejamento faz com que despesas operacionais “invisíveis” se tornem rotina, corroendo o lucro e, eventualmente, o próprio caixa da empresa. Com o tempo, quando o caixa deixa de ser suficiente, o empresário pode se ver diante de endividamento bancário para cobrir as lacunas.

Como advogados, é fácil nos limitarmos a redigir cláusulas de multas por atraso em contratos. Mas nosso papel deve ir além. Uma assessoria jurídica eficaz precisa ultrapassar o campo técnico e entrar no aconselhamento estratégico, alertando o empresário de que, às vezes, é necessário dar um passo para trás.

E esse passo para trás não implica em regressão, mas no olhar crítico sobre o caminho percorrido. Esse olhar atento pode ser feito por uma boa consultoria profissional que, por sua vez, avalia a viabilidade real do negócio, identificando onde o dinheiro “se perde” e ajudando o empresário a entender até onde ele pode expandir sem comprometer a saúde financeira da empresa.

Crescer de verdade exige muito mais do que observar o aumento de faturamento. Requer planejamento, avaliação de capacidade operacional e um olhar criterioso sobre a rentabilidade do negócio. É essencial entender o que realmente sustenta o crescimento empresarial.

Este artigo foi publicado em minha newsletter no Linkedin em 27/10/2024.

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